Obvious Child - Crítica


#Obvious Child joga nova luz sobre o tema aborto

Nenhum aborto é planejado. Assim como a gravidez inesperada, ele também é indesejado. Diante deste raciocínio, o filme Obvious Child respira fundo e se propõe a falar sobre o tema, de mente aberta, sem dogmas ou exageros de qualquer espécie, rindo e chorando com os dilemas que surgem pelo caminho. O resultado é uma comédia dramática sensacional.

Na história, somos primeiramente apresentados a jovem Donna Stern, comediante stand up sem papas na língua, que acabou de descobrir a traição do namorado enquanto o mesmo terminava o relacionamento com ela. Logo em seguida, conhecemos Max, sujeito gente boa, que toca guitarra, estuda bastante e é um perfeito cavalheiro. Uma espécie de caretão descolado. 


Por acaso, os dois se encontram no bar em que Donna se apresenta. Naquela noite ela usou a frustração do pé na bunda como combustível de seu show, o que foi extremamente pesado. Mesmo assim, eles acabam se dando muito bem (enquanto bebem bastante), e depois disso (devidamente bêbados), fazem sexo e ela engravida.



Obvious Child é um filme pró-aborto, pelo simples fato de tratar do assunto com extrema naturalidade. Todo o drama da experiência de Donna é analisado em detalhes, esmiuçado por debates e confissões comoventes e ao mesmo tempo hilárias.

O humor obviamente faz toda diferença. Além dele humanizar estes personagens de escolhas supostamente condenáveis, também ajuda a demonstrar que as circunstâncias por trás da gravidez não eram – nem de perto – as ideais, nos fazendo pensar até que ponto a situação configura uma justificativa aceitável ou não para o aborto.      



A diretora e roteirista estreante Gillian Robespierre consegue dar voz honesta a sua protagonista. Por ser comediante, Donna é naturalmente fora dos eixos. Ela parece sentir genuíno prazer em descrever situações escatológicas absurdas em seus shows, por exemplo. Tudo sobre ela respira autenticidade, e somos compelidos a nos afeiçoar por seu lado humano com facilidade. 


É preciso ressaltar que a personagem foi feita sobre medida para a atriz Jenny Slate, que aqui revela todo seu potencial. Robespierre e Slate já haviam colaborado juntas no curta homônimo que deu origem ao filme, e por isso ambas estão extremamente confortáveis em suas respectivas posições. Quem viu Slate na série Parks and Recreation, se surpreenderá com sua versatilidade. Este é um trabalho memorável da intérprete.


Enfim, percebemos que um tema é tido como politicamente incorreto quando esbarramos em certas dificuldades para escrever sobre. Obvious Child pode ser considerado politicamente incorreto, pelo simples fato de não estigmatizar o aborto, mas sim tratá-lo como uma realidade, e não como um parágrafo ou pensamento predeterminado. A história se permite dar risada de sua própria tristeza, e se fortalece com isso. É pouco provável que agrade a todos, mesmo assim, continua sendo ótimo. Recomendado.





Obvious Child: Eua / 2014/ 84 min/ Direção: Gillian Robespierre/ Elenco: Jenny Slate, Jake Lacy, Gaby Hoffman, Richard Kind, Polly Draper, Gabe Liedman

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