Nada melhor do que o riso para aliviar os dramas da vida. A história real do filme As Sessões é baseada em um artigo de 1990, publicado na revista The Sun, que foi escrito por Mark O'Brien e intitulado "On Seeing a Sex Surrogate" - que em português seria algo como "Saindo com uma Substituta Sexual". O'Brien era um jornalista formado e poeta. Ele ficou paralisado do pescoço para baixo quando teve poliomielite na infância, e na época em que escreveu a matéria - que mudaria sua vida -, precisava passar horas em um "pulmão de aço" imenso, que lhe ajudava a respirar - fora dele, O'Brien se manteria vivo por algumas horas.
O fato é que, com 38 anos de idade, o poeta ainda era virgem. Com uma concepção de vida completamente diferente de tudo que possamos imaginar, e dono de uma inteligência singular, ele lidava com a situação a sua maneira, até o momento em que a possibilidade da matéria e do fim de sua virgindade surgiu. E é neste momento que começa a fita dirigida e roteirizada por Ben Lewin, também um sobrevivente da pólio.
Para perder a virgindade de uma forma gentil, por assim dizer (devido aos inúmeros problemas envolvidos, como por exemplo sua postura torcida, resultado de um desvio de coluna), uma substituta sexual foi contratada, e esta seria basicamente a experiência que ele viria a retratar em seu ensaio jornalístico.
Mas esta substituta, chamada Cheryl, não é uma prostituta, como todos devem ter pensado. O trabalho dela é conseguir evoluir psicologicamente a mentalidade assustada de um homem deficiente que nunca teve contato sexual com uma mulher. Enquanto faz isso, ela estuda o comportamento do paciente, suas ideias sobre o sexo e si mesmo, e sua recepção do ato. Tudo é registrado para a análise da terapeuta que recomendou a abordagem. Alguns podem chamar Cheryl de boa samaritana, enquanto outros conseguirão enxergá-la como uma profissional de mente aberta, livre de dogmas ou preconceitos, que seria a melhor descrição, obviamente.
É preciso entender que em uma "relação" como essa, que tem o sexo como tema fundamental dos encontros, sentimentos fortíssimos podem surgir de ambas as partes. Mesmo as ajudantes de O'Brien, que lhe vestiam e davam banho, despertavam seus sentimentos, pois eram sua única ligação, física e mental, com outros seres humanos. As sessões com Cheryl eram dolorosas em um aspecto, mas reveladoras em tantos outros.
Por ter vivenciado os males da doença de O'Brien, o diretor Ben Lewin pôde oferecer credibilidade para a produção, acrescentando suas experiências pessoais. Utilizando a comédia como válvula de escape, criou uma narrativa inteligente, ousada e impagável, principalmente nas constantes confissões do protagonista com o padre Brendan, nas quais o mesmo descreve detalhadamente suas aventuras sexuais. Brincar livremente com religião e sexo é algo complicado, pois estes são dois temas que podem ser mal compreendidos pela maioria do público, mas no final, tudo é muito agradável e sem puritanismos descabidos. Como disse o padre ficcional, "Tenho certeza que Deus deixará esta passar para você Mark". É mais ou menos isso.
Mas não haveriam As Sessões sem seus intérpretes. É realmente cativante ver a incorporação realizada por John Hawkes, seu Mark O'Brien é pura sensibilidade. Além do ator se utilizar de recursos dolorosos durante todas as cenas (como se deitar sobre uma bola, para assim envergar sua postura) e treinar avidamente o controle bocal de instrumentos, vemos nele aquela pureza necessária para o papel, e o humor honesto e desprendido igualmente exigido. Hawkes entrega um homem que, por um lado nada sabe da vida, e por outro sabe mais do que gostaria. Uma atuação difícil, que claramente exigiu muita dedicação.
Já William H. Macy existe na história basicamente para nos fazer rir com seu padre Brendan. Ele usa seu semblante amigável para dar vida ao sacristão que enfrenta a mais difícil missão de sua vida religiosa: ponderar os pecados de um deficiente físico que busca satisfação sexual plena, ato que, infortunadamente, terá de ser fora do casamento. A fita explora bastante a fé do O'Brien, e como isso lhe atrapalha em determinadas situações.
No entanto, o grande destaque do longa é sem dúvida alguma a interpretação corajosa de Helen Hunt como a substituta sexual Cheryl. A atriz usou seu carisma e naturalidade para moldar a personalidade desta mulher que, na maior parte do filme, fica nua sobre um deficiente, dando instruções de como irá inserir o pênis do mesmo em sua vagina, para assim iniciar o coito... Definitivamente um papel dificílimo, que envolveu muita dramaticidade e humor, ou seja, altos e baixos contrastantes.
Em resumo: "As Sessões" é excelente. De maneira gentil e poética, o filme nos conta a primeira vez de Mark O'Brien, homem que se achava amaldiçoado por Deus e que nunca conseguiria ter prazer com uma mulher em sua vida. Mesmo com uma carga dramática forte, o diretor Ben Lewin - conhecedor da causa - faz do riso a forma ideal do protagonista lidar com seus problemas. Esta é uma produção extremamente válida, não só por suas qualidades técnicas e interpretativas, mas também por nos fazer pensar em tudo de bom que temos em nossas vidas. Altamente recomendado.
As Sessões/ The Sessions: EUA/ 2012/ 95 min/ Direção: Ben Lewin/ Elenco: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood, Annika Marks, Adam Arkin, Rhea Perlman, W. Earl Brown, Robin Weigert, Blake Lindsley, Jennifer Kumiyama, Tobias Forrest