Em 2008 o diretor Martin McDonagh (que trabalha nas horas vagas como sósia do Sting - veja aqui e aqui) lançou seu filme de estreia "Na Mira do Chefe". Foi de fato um ótimo primeiro trabalho, que revelava a criatividade do britânico tanto na roteirização, como na direção. Também foi possível perceber em sua linguagem certo humor negro tipicamente britânico, aquele que faz do macabro algo irônico, mas ainda com nuances de suspense.
Abandonando então o velho continente como palco, McDonagh trouxe sua trama para Los Angeles, Hollywood. Depois de ter reerguido a carreira de Colin Farrell em 2008, o ator volta a trabalhar com o diretor, novamente como protagonista. E junto a ele segue um elenco invejável, que foi arrebatado (sem sombra de dúvida) pelo instigante e criativo roteiro de "Sete Psicopatas e um Shih Tzu" - nome brasileiro, extremamente marketeiro, que traz o adendo mais desnecessário e ridículo que já vi.
Entre os principais atores da fita temos Sam Rockwell ("Lunar"), Christopher Walken ("O Franco Atirador"), Abbie Cornish ("O Brilho de Uma Paixão"), Olga Kurylenko ("007 - Quantum of Solance"), Gabourey Sidibe ("Preciosa"), Woody Harrelson ("Virada no Jogo"), Michael Pitt ("Violência Gratuita"), Michael Stuhlbarg ("Um Homem Sério") e o cantor Tom Waits ("Daunbailo"). Definitivamente uma galera de peso.
Agora, discorrer sobre o roteiro do longa é uma tarefa pouco prática. Podemos dizer que ele oferece uma metalinguagem ensandecida, como feita por Charlie Kaufman em "Adaptação". Basicamente, temos a história de um roteirista que tenta escrever um filme sobre sete psicopatas incomuns, que fogem dos esteriótipos, e essa busca se revela extremamente conturbada, instantaneamente cult, infinitamente engraçada e brutalmente sangrenta.
McDonagh faz do humor negro o ar que seu filme respira. A todo momento temos assassinatos viscerais acontecendo devido a temas ridiculamente fúteis, como o sádico chefe da máfia local que busca implacavelmente os sequestradores de seu Shih Tzu. Na outra ponta, o texto que o roteirista escreve no filme, sobre seu filme (não se perca, ok!?) gera momentos da mais pura comédia, regados com grandes doses de sadismos, sendo o maior exemplo dessa funcional mistura a absurda vingança do "velho Quaker". E no final, tudo está interligado e por aí vai - você pode não ter entendido muito coisa, mas acredite, é algo realmente único, e só mesmo assistindo para captar a essência da obra. Qualquer aprofundamento maior estragaria a trama.
Na questão técnica tudo funciona tão bem quanto o roteiro. A habilidade na direção de McDonagh é admirável. Ele mistura sua veia européia (fotografia, edição, ritmo e montagem) com aquela pegada independente americana, e o resultado é mais do que eficiente. E colaborando com um largo sorriso no rosto, temos um elenco completamente entrosado, sendo destaque absoluto o ótimo Christopher Walken, de quebra o sempre maluco Sam Rockwell, Woody Harrelson (que surge perfeito para o papel de chefe da máfia que chora por seu cachorro perdido) e por que não, Colin Farrell.
Em resumo: o filme retrata, como em um quadro pitoresco recheado de humor negro, qual foi o processo de composição do roteiro de "Sete Psicopatas", e isso dentro do próprio "Sete Psicopatas". Como foi dito, é algo metalinguístico, que mistura certa realidade com ficção, tudo de maneira inteligente, contraditória, criativa e brutal. A direção estilística do diretor - que enfatiza a beleza sórdida da violência - e um ótimo elenco - que trabalha de forma fraternal - completam os acertos da produção. Se gosta de sair do comum, esta é sua melhor opção no momento.
PS: o trailer e o nome em português tentam desesperadamente vender o título como um filme de golpe sobre caras que roubam um cachorro. Mas tenha certeza, vai muito além disso.
Sete Psicopatas e um Shih Tzu/ Seven Psychopaths: Reino Unido/ 2012/ 110 min/ Direção: Martin McDonagh/ Elenco: Michael Pitt, Michael Stuhlbarg, Sam Rockwell, Colin Farrell, Abbie Cornish, Christopher Walken, Woody Harrelson, Gabourey Sidibe, Olga Kurylenko, Tom Waits