O Impossível (Lo Imposible)

"O Impossível" usa o realismo para exemplificar a dor, e o simbolismo para intensificar a emoção. 

Revivendo o tsunami ocorrido na costa da Tailândia no dia 26 de dezembro de 2004, "O Impossível"  é um filme que mistura realidade e simbolismo no intuito de retratar o desespero daqueles que estiveram envolvidos nesta tragédia, e também a felicidade dos que sobreviveram. 

A história real da família espanhola formada por Maria Belón, Enrique Alvarez e seus três filhos pequenos, teve um final feliz. Foi algo raro, que obviamente se destacou em meio ao sofrimento causado pela a devastação que veio do mar. Devido a isso, podemos concordar que parece correto usar uma história positiva para investigar uma tragédia como essa, e mesmo a família sendo abastada (afinal, o local era um ponto turístico de privilegiados), não foi isso que os fez sobreviver. No momento do impacto todos eram iguais.

O realismo visual alcançado pelo diretor Juan Antonio Bayona é impressionante, não só pelos efeitos especiais incríveis, mas também por toda parte técnica de cenografia e efeitos sonoros. Tendo como base diversos vídeos do acontecimento (massificados pelo Youtube), percebemos a semelhança alcançada, um retrato preciso que cumpre a função de ser o registro da dor. O longa faz questão de explorar todas as intensas situações que os sobreviventes tiveram de enfrentar após as ondas arrasadoras: os ferimentos horríveis e profundos, os corpos em meio aos destroços, o desencontro dos familiares e a busca incansável pelos mesmos. A perda e reconquista da esperança.



Junto a isso, surge o simbolismo que comove, com situações que resumem emoções - como o desespero implícito dos familiares que ficaram totalmente às cegas, sem notícia alguma de seus filhos e filhas por dias. "O Impossível" é um filme extremamente dramático, e o diretor Bayona soube muito bem como valorizar isso, dosando o silêncio nos momentos certos, e utilizando a trilha sonora arrasadoramente triste para elevar os sentimentos. 

Para alguns, isso pode parecer apelativo, assim como o encontro da família, que é de um acaso inimaginável. Mas esta é uma licença poética compreensível e mais que bem vinda. Pois afinal, como contar uma história dessa sem fazer chorar? Qualquer reencontro naquele caos foi improvável de qualquer forma, e emocionaria de qualquer maneira. Com certeza, mesmo com todos os recursos de close-ups, trilha incidental belíssima, crianças chorando de emoção... mesmo com tudo isso, o que temos é apenas uma pequena fração do sentimento real desta história. No final, as lágrimas proporcionadas por Bayona são poucas, pois a fita apenas emula parte da realidade, que nunca poderá ser captada de maneira plena.



E fazendo tudo funcionar perfeitamente, temos o ótimo elenco escalado, sendo o destaque as interpretações de Naomi Watts e Ewan McGregor como Maria e Henry (na fita, a família é britânica). Ambos protagonizam momentos de extrema dramaticidade, um trabalho psicológico profundo e difícil para qualquer ator. Mas é a naturalidade de Watts que no final brilha mais forte. Sua Maria é a personificação da dor, um retrato tocante de uma mãe que encontra forças inacreditáveis para continuar em frente. Senão fosse por seu filho, ela provavelmente teria morrido. 

Em resmumo: "O Impossível" oferece a brutalidade da natureza com realismo gráfico, a celebração da vida com um simbolismo emocionante. Altamente Recomendado.





O Impossível/ Lo Imposible: Espanha/ 2012/ 114 min/ Direção: Juan Antonio BayonaElenco: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland, Samuel Joslin, Oaklee Pendergast, Marta Etura, Sönke Möhring

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