The Broken Circle Breakdown

Círculo imperfeito.

O cinema contemporâneo da Bélgica poucas vezes se fez tão contundente como em The Broken Circle Breakdown. De tom muito diferente da produção conterrânea, tóxica e punk, Ex-Drummer, o filme oferece uma imagem menos negativa do país, e constrói uma ode rústica ao amor, suas glórias e desgraças, tudo ao ritmo de um puríssimo bluegrass belga/norte americano - acredite se quiser. 

Na história, somos apresentados ao casal Didier e Elise. Ele, aficionado pelos Estados Unidos, é o vocalista e coração de uma banda de bluegrass. Ela, tatuada dos pés à cabeça com temas oldscholl, é uma autêntica pin-up, que convenientemente tem uma belíssima voz. A relação entre os dois se fortalece rapidamente, e uma gravidez inesperada oficializa a união. Mas os problemas surgem quando a filha Maybelle é diagnosticada com uma doença grave, e dali pra frente a parceria deles começa a ser testada de maneira severa, assim como a compreensão e tolerância de suas próprias crenças.



Talvez o fato mais impressionante desta produção independente seja a qualidade alcançada com tão pouco dinheiro. O diretor Felix van Groeningen operou um verdadeiro milagre com os escassos 30 mil dólares disponíveis, e conduziu um filme esteticamente preciso e de narrativa impecável. O texto é uma adaptação da peça homônima escrita por Mieke Dobbels e Jhohan Heldenberg, sendo este último o ator que personifica o protagonista Didier. Já a atriz que interpreta Elise, Veerle Baetens, possui uma extensa formação musical e já ganhou importantes premiações belgas do gênero.

Além do elenco entregar puro realismo, um dos pontos de maior destaque é a incorporação dessas belíssimas canções americanas em meio ao tema, todas interpretadas com visível inspiração pelos atores. Outro elemento agregador, que torna o ritmo algo extremamente fluído, é a atemporalidade das cenas. O roteiro revela pedaços de um quebra cabeça, e apesar do quadro geral parecer claro, sempre falta uma peça surpresa.



Jogar com a não linearidade de passado e presente de uma história de amor, foi algo feito pelo também excelente Blue Valentine. Mas aqui a proposta é mais urgente, carregada de uma tristeza factual menos individualista, mais pungente. Um confronto acerca da crença e descrença em deus parece surgir meio que repentinamente, mas o mesmo se faz importante e coerente dentro da trama.

No final, The Broken Circle Breakdown é um produto independente feito com dedicação sem igual, e suas interpretações são profundamente pessoais. A história evoca uma melancolia arrasadora, só que ao mesmo tempo fundamenta a cativante história de amor do casal, embalada por um ritmo sulista americano improvável.

Como disse o ex-beatle George Harrison, "todas as coisas devem passar", ou seja, tanto tristeza como alegria. Este é o verdadeiro círculo a que devemos nos atentar, pois ele não se quebra. Recomendado.     

PS: A fita concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014.




The Broken Circle Breakdown/ Alabama Monroe: 2012/ Bélgica, Países Baixos / 111 min/ Direção: Felix Van Groeningen/ Elenco: Veerle Baetens, Johan Heldenbergh, Nell Cattrysse, Geert Van Rampelberg

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